Um Poema de Guerra

Conheci um homem quando era jovem. Ernst Brechtman. Um açougueiro.Na época me parecia um velho, mas ele não devia ter mais de 40. Um dos homens mais gentis que conheci.Certa vez visitei seu matadouro  e o vi matar 26 ovelhas. (...)

Quando os animais paravam de sangrar, Ernst sentava numa imunda  cadeira de pau. Notei  que ele estava coberto de sangue quando acendia o cachimbo e relaxava. A fumaça era bem vinda . Ajudava a disfarçar o cheiro de sangue.( ...)

Enquanto uma centena de pernas de ovelhas se debatiam atrás dele emoldurando seu rosto escuro e ensanguentado numa aura de luz branca, ele sorria.
Sorria apesar de tudo que eu tinha visto.Reconheci  aquele sorriso amplo e cheio de dentes - e foi só então que ele se tornou  o Ernst que eu conhecia.   

Ernst Brechtman estava feliz. Fazia seu serviço e se recompensava com uma baforada.Não havia dúvidas nem perguntas. Ele servia a um objetivo.

Essa Lembrança me sustentou como soldado.

George Pratt

Comentários

Dilberto L. Rosa disse…
A bela e sangrenta guerra nossa de cada dia... Muito bonito! Bom retorno, enfim! Abração!
Игорь disse…
Olá Dilberto!

Sangrenta sim...

Bela talvez.

Em todo caso pouco tempo para o blogue agora. Bem ,ainda existem as madrugadas !

Abração !
Unknown disse…
Faz um tempinho que não passo por aqui. Bom poder ler seu blog novamente! Essa postagem me lembrou de algumas passagens do Silêncio dos Inocentes.
Игорь disse…
Olá Mirella ! Faz um tempinho que não posto também rsss

A passagem tem inegáveis toques macabros, em especial o conformismo.
Unknown disse…
As pessoas se habituam com o sangue e o sofrimento alheios,e ainda conseguem ficar em paz e sorrir.Há algo de mto podre no animal humano.Odiei esse George Pratt.
Игорь disse…
Calma ! Georg Pratt é só escritor- ilustrador.

E sim, criamos mecanismos para sobreviver ao pior.

um beijo