Lâminas*



mimetizara seus movimentos ,em sequências e tremores

O grotão que lhe servia de refúgio era escuro e úmido. Na maior parte do tempo liberto dos raios solares. Estes surgiam em determinadas épocas. De certa forma isto lhe regulava os hábitos.
A rigor, não via realmente, seu mundo era reduzido a uma delicada tonalidade de ambíguos cinzas.
Sentia melhor as vibrações da mãe-terra. Ela lhe dizia o que fazer, quando e onde. Havia chegado à hora. Cinza claro e tremores sutis.
Com um movimento de chicote mexeu o corpanzil. Cada anel encouraçado do corpo arremeteu em direção as bordas da caverna.  Emergiu numa tonalidade gélida. “Ouviu” as vibrações ao redor. Silêncio. Estendeu seus tentáculos de desconhecidas funções. As couraças aneladas articularam-se. Embrenhou-se na mata em busca da trilha de coníferas.
De uma posição privilegiada, ele observava o gigante. Examinou suas armas: lâminas duplas. Um golpe no lugar certo e seria o fim do monstro.
O gigante seguia rápido, chicoteava e partia os obstáculos difusos em seu caminho. Sentiu um ligeiro tremor atrás de si. Ficou atento. Girou a cabeçorra. Nada.  Contraiu-se e continuou. Ele permanecera equilibrado entre galhos partidos.  Fora descuidado.  Não existiria outra chance. Ouviu o barulho das couraças articuladas. Descobriu a sua seqüência de sons e tremores. Agora poderia mimetizar os seus movimentos.
Adotou uma trajetória paralela à presa. Suas lâminas permaneciam embainhadas. Após minutos intermináveis atacou. Com um silvo suas espadas abriram-se num arco de 180 graus. Impacto; faíscas; os pés descolaram-se da terra. Momento de terror e caiu arquejante. O monstro sequer sentira o golpe. Não esboçou reação. Apenas seguiu imperturbável.
Contrariado se ergueu e voltou à carga. Vibrações surdas na terra. Galhos partidos. Um novo arco fulgurante. Golpe violento entre dois anéis. Foi arremessado aos ares e teve a queda amortecida por um monturo de bétulas secas.
Balançou a cabeça furioso. Seu corpo tremia de cansaço. Mais uma vez não detivera a marcha do gigante. Espere! Algo aconteceu! O monstro girou a carranca. Expelia vapores sulfurosos de seus espiráculos. Estava ferido. Acelerou seus movimentos de chicote. Mudara de rumo e buscava a segurança do seu grotão.
Reanimado o Espadachim se levantou. Enquanto tivesse forças atacaria o Dragão da Terra. Corria em paralelo e atacava a fissura aberta pelas espadas. As lâminas abrasivas perfuravam o tecido entre as articulações. Uma delas penetrou fundo. Com a outra golpeou furiosamente para aumentar a brecha e paralisar a presa.
Os anéis se contraíram e antes que ele pudesse desprender suas armas, fecharam-se.  Uma delas partiu e ficou encravada. Por ela jorrava o sangue negro da terra.
O dragão sem emitir ruído claudicava. Entortou o monstruoso crânio envolto em vapores em busca do agressor. Apenas distingiu entre as mesclas acinzentadas um brilho metálico... 
O naturalista estava de cócoras. Surpreendia-se muitas vezes com seus devaneios. Sorriu. Devia ser uma observação cientifica do comportamento das odontomachus e dos colubriformes. Limpou o suor da testa e continuou o seu trabalho.  



Игорь



*escrevi a historieta em 2009 influenciado por Bill Watterson, o pai do Calvin.    Hoje, parece-me rebuscada demais.    

Comentários

Dilberto L. Rosa disse…
Suspense e ação medievais, dignos de uma Terra Média, porém com alguns entreveros confusos no meio do caminho (não sei se para o bem, se para o mal, não dá para saber quem é quem em certo momento da trama), mas o final é mesmo redentor!

Abraço em tom cinza, meu amigo!
Игорь disse…
Olá Dilberto, obrigado.

Fazendo um esforço de memória acho que tentei na época em que escrevi criar um certo clima de quem é o que, ou algo assim.

Se comentário é bom. Vou revisar o texto.

abraços !
Dilberto L. Rosa disse…
Na verdade, o que pareceu crítica assumo que foi elogio: acho que serviu à história a confusão entre personagens em dado momento da narrativa... Meu abraço e apareça!
Игорь disse…
Valeu Dilberto ! Faz tanto tempo que escrevi este texto que vagamente me lembro de propositadamente deixar acontecer . Hoje fui saber que deu certo rsss

abraços
Dilberto L. Rosa disse…
Postagem nova! Lâminas novas!... Já! E tem bom Cinema por lá! Abraço!
BLOGZOOM disse…
Amigo, como vai?
Saudades.

Vim ler um pouco voce.

Beijos
Celamar Maione disse…
Hummmm literatura fantástica ?
Gosto de reescrever textos antigos.
Que tal dar uma enxugada ?
Não sei se procede...mas ....escrever é reescrever.
Beijos
Dilberto L. Rosa disse…
Mas, amigo, estas tuas lâminas já estão desgastadas pelo tempo e pela poeira, que já andam desamoladas! Favor, afie logo suas palavras cortantes e certeiras e poste coisa nova! Abraço, bom feriado e apareça!
Игорь disse…
Olá , vamos por partes :

Obrigado Dilberto pelo seu entusiasmo. Teu amigo escriba aqui anda contaminado pelo espírito "para depois da quarta de cinzas", então um novo post deve se seguir , ok ?

Oi Sissym, obrigado pela visita e espero que tenha tido boas leituras .

Reescrever dá mais trabalho do que escrever. Deve ser um bom exercício.

bom carnaval a todos !

beijos e abraços !
Игорь disse…
E obrigado pelo comentário Celamar !

de volta a cultivar minha preguiça de macunaíma ...rsss