Fitou-se no espelho. Exame demorado. Cada ruga, cada vinco tinha uma história . Algumas contavam-lhe segredos . Mas não tinha certeza da sua veracidade. Sem querer olhou nos próprios olhos. Um olhar dolorido. Ainda se reconhecia, no entanto. Estava gasto e consumido e ainda assim, conservava um brilho de fúria disfarçado pelas boas maneiras e a cuidadosa arte de escolher bem as palavras. Talento Raro - pensou. Vestiu o uniforme ritualisticamente. Ajustou- lhe os botões e pregou as insígnias de plástico douradas. Colocou o quepe de forma um tanto displicente e estudada . Estava pronto . Prestou continência a si mesmo. Foi ao tombadilho e atirou–se ao mar. Os tubarões fizeram o resto. Despertou da ressaca . Abriu os olhos e as bocarras desapareceram. Um pesadelo. É certo que se repetia todas as noites . O espelho, a farda e ...os tubarões . Aprendera a conviver com eles . De alguma maneira , os esqualos lhe traziam certa paz...